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Atrasos e preços elevados no país têm levado a Petrobras a recorrer cada vez mais ao mercado externo para contratar embarcações de apoio às atividades de exploração e produção de petróleo e, assim, manter sua meta de dobrar a quantidade de barris produzidos até 2020. Só entre janeiro e outubro deste ano, a estatal autorizou US$ 1,55 bilhão para fretamento de diversos barcos de apoio com bandeiras estrangeiras. O número é próximo ao de todo o ano passado, de US$ 1,855 bilhão, e maior que o de 2011, de US$ 1,543 bilhão, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Desde 2010, a estatal já gastou US$ 5,6 bilhões.
Assim, a Petrobras, diz a Antaq, soma 80% das embarcações estrangeiras fretadas por empresas brasileiras em 2013: 172 das 215. O cenário ganhou alerta extra da própria Petrobras, que hoje freta mais embarcações do exterior (195) do que brasileiras (184). No relatório trimestral de resultados, a estatal informou que um dos motivos para não ter produção maior foi a limitação de navios de lançamento de linhas flexíveis (conhecidos como PLSVs, na sigla em inglês), devido à dificuldade de fretá-los no Brasil. Em razão disso, teve que contratar oito unidades no exterior. Do outro lado, o setor diz que a falta de previsibilidade da estatal em lançar concorrências prejudica o planejamento dos estaleiros.
José Formigli, diretor de Exploração & Produção da Petrobras, disse que um exemplo das dificuldades do setor foi a licitação dos PLSVs. Foram sete adiamentos para entrega de propostas, um atraso de um ano. A demora ocorreu, diz, porque a Petrobras buscou viabilizar propostas competitivas de barcos construídos no Brasil, incluindo uma cláusula de reajuste de preço ao longo da construção:
“Infelizmente, os barcos levavam muito tempo (na construção), mas a taxa diária (de fretamento) era fora da realidade, acima de 30% (em relação aos preços internacionais). Isso faz com que a gente não possa contratar barcos dessa forma. Numa licitação (em 2010), contratamos o barco da Sapura, que está sendo construído na OSX. Este barco não está tendo a performance adequada na construção pelos problemas conhecidos, e vamos ter que buscar uma solução alternativa”.
As encomendas da Petrobras estão no Plano de Renovação da Frota de Apoio Marítimo (Prorefam), lançado em 2008. Na atual fase, a estatal contratou 79 das 146 embarcações previstas, divididas em sete rodadas. Hoje, negocia os preços das propostas recebidas na quinta fase, lançada em agosto. A previsão é assinar os contratos em dezembro. Para a sexta fase, adiou, a pedido das empresas, a entrega das propostas para janeiro:
“O mercado já recebeu mais uma leva de encomendas e demos um prazo até janeiro, pois o próprio mercado pediu. A quantidade de embarcações (nacionais) contratadas vai depender se vêm mais propostas boas e se teremos demanda. E tem (demanda), porque usamos barcos de bandeira estrangeira”, afirma Formigli.
Estaleiros: falta previsibilidade a encomendas
Na quinta e sexta rodadas, a Petrobras contratará navios de apoio a plataformas (PSVs) e manuseio de âncoras (AHTs). A meta é contratar 20 unidades por etapa. A sétima e última rodada será lançada no primeiro semestre de 2014. Sobre as críticas de a falta de previsibilidade das encomendas afetar o planejamento dos estaleiros, Formigli é enfático:
“Entendemos que permitir o planejamento do empresariado, para que esteja pronto a nos dar boas propostas, faz todo o sentido. Fazemos as licitações em tamanhos que garantam a competição. A Petrobras nunca fará uma licitação que tenha tanto barco no mercado que a competição vá lá para baixo, e o preço lá para cima. Aí, não contrataremos”.
Os altos preços no Brasil criam polêmica. Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval, sindicato que reúne as empresas do setor naval, diz que os preços no exterior caíram por causa da crise de 2008.
“Com a crise, houve redução dos investimentos. A frota ficou ociosa e ocorreu a redução nos preços. O desejável é que os estaleiros possam contar com uma programação de encomendas que permita criar uma escala de produção, para aumentar a produtividade e reduzir custos”, diz Rocha.
Ronaldo Lima, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo, critica o fato de a Petrobras comparar os custos de produção no Brasil com os preços no exterior, por causa da ociosidade lá fora. Ele diz que há um custo alto nas áreas de operação, manutenção e tripulação, e que é preciso uma política para equilibrar isso, para não ficar na mão do mercado internacional.
Para Miro Arantes, presidente do estaleiro Vard, que constrói dois PLSVs para a estatal, é preciso um calendário de licitações e a Petrobras deve forçar os armadores (que contratam estaleiros para construir embarcações) a optarem por empresas nacionais:
“Há armadores que não se sentem seguros em contratar no Brasil. Precisamos que a Petrobras lance mais concorrências, para uma programação.”
Por Bruno Rosa/ O Globo
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