Você usina quando faz a barba?

 Colaboração de Wilson Sergio Martins Dantas

(*) Há séculos o homem cultiva sua própria evolução graças aos avanços que faz com ferramentas de corte, como se pode ler no famoso ícone da usinagem, o livro "A História do Metal Duro", do engenheiro Francisco Carlos Marcondes. O homem como criador vem desde o tempo do "homem das cavernas", graças às ferramentas com cunha que ele pôde se desenvolver. Mas gostaria de retratar a evolução das ferramentas de corte de uns tempos pra cá.

Farei um paralelo entre as ferramentas para corte de metais e os aparelhos de barbear. Em 1895, usava-se a navalha como principal elemento barbeador. Quando estava fazendo a sua barba, diante do espelho, King Camp Gillette se deu conta de que só uma parte da navalha era realmente necessária: a ponta da lâmina. Ele deve ter pensado: "Por que temos de usar uma baita navalha desta, se apenas usamos o seu gume?". Gillete era um vendedor norte-americano.

Tinha 40 anos quando ouviu um conselho de seu chefe: "Precisamos vender coisas que o freguês use e depois jogue fora. Assim, ele voltará para comprar mais. (Nesta mesma época, em usinagem, utilizava-se de ferramentas de aço carbono temperado com vida útil muitíssimo curta.) Gillette pôs-se a agir. Os peritos achavam impossível fazer uma lâmina pequena, de bom corte e tão barata que pudesse ser jogada fora depois de usada. Somente em 1901 é que os problemas técnicos foram superados e surgia a American Safety Razor Company com a gilete que hoje todos conhecemos. Os jornais de 02/12/1901 noticiaram que King Camp Gillette patenteara uma invenção: um barbeador de lâminas recarregáveis. A utilidade do invento, porém, foi questionada pela comunidade científica. Seus detratores acreditavam que ninguém iria comprar lâminas novas o tempo todo, quando se podia, simplesmente, reafiar a velha navalha a cada novo barbear.

Passaram então a conviver no mercado as navalhas e as lâminas descartáveis. E a afiação então utilizava uma cinta onde o experiente barbeiro expressava sua técnica e destrezas únicas. (Em meados de 1910, o homem conseguiu chegar ao Stellite, com resistência ao desgaste melhorada. Posteriormente, surgia o metal duro soldado, responsável pelo aumento significativo da vida útil em altas velocidades de corte.) Deixando agora as datas de lado, a lâmina da Wilkinson fazendo o papel das primeiras lâminas intercambiáveis em um suporte que fixava a ferramenta por um parafuso embaixo e presilhas em cima. E o operador teria que utilizar um lado para desbaste e o outro para o acabamento. Foi lançado então o primeiro Prestobarba, com 2 lâminas, onde a primeira faz tchan! a segunda faz tchun! e tchan tchan tchan! tchaaaannnn!! Que consistia em uma ferramenta ainda presa ao suporte e que eram descartados todo o conjunto. 
 
Com o passar dos anos houve uma mudança, os cartuchos passaram a ser sobressalentes, comprava-se o suporte de ferramentas à parte e os cartuchos conforme a necessidade. Paralelamente também foram criados os barbeadores elétricos, transformando-se no sonho de todo homem como presente no dia dos pais! Algo parecido com aqueles que podem investir em uma máquina de High Speed Machining, com usinagem sem refrigeração dos pêlos, isentando o operador de perder minutos preciosos besuntando o rosto com uma caríssima espuma ou creme de barbear, ou seja, um fluido de corte eficaz que auxiliava as lâminas a escoar melhor os pêlos (cavacos), aumentando a eficiência e vida útil do fio de corte das navalhas e lâminas.

Na década passada, foi lançado um aparelho com lâminas flexíveis para acompanhar o contorno do rosto, permitindo um melhor acabamento da superfície sem danificá-la. Foi ainda instalada uma fita lubrificante que pode ser encarada como um modo de minimizar a quantidade de lubrificante gasto na "usinagem" (isto não lembra uma MQL?). Os materiais utilizados nas ferramentas de usinagem e nos barbeadores foram melhorados, ganharam revestimentos para minimizar o desgaste ou ainda para evitar infecções cutâneas. Recentemente foram apresentadas duas revoluções, uma ferramenta para barbear otimizada quanto ao design e aplicabilidade com resultados bastante animadores e uma outra equipada com 3 lâminas flexíveis em cartuchos intercambiáveis, um barbeado mais rente e perfeito em menos passadas, característica fundamental das pastilhas alisadoras Wiper, que possuem novo design de aresta que proporciona rápidos avanços e melhor acabamento.

Concluindo: o barbear é uma arte em usinar. Buscamos o conforto e a vaidade de parecermos apresentáveis. O que não se pode é deixá-la por fazer, para não parecer relaxo. Se os barbudos de plantão, que passam horas esculpindo suas magníficas barbas, estiverem se sentindo ofendidos, me perdoem. Não era esta a intenção, até porque sempre lembradas por todos nós, em especial a do famoso velhinho barbudo: o PAPAI NOEL? Esta foi a maneira que encontrei de desejar Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos aqueles que usinam. PS: É dos carecas que elas gostam mais (mas isto é para uma outra história!) (*)

Wilson Sergio Martins Dantas, que se auto-entitula o Forrest Gump da Usinagem, é instrutor técnico de usinagem do Senai e da Escola Pérola Byington. Dantas – que está escrevendo um livro sobre usinagem – nos informou que esta crônica foi o modo que encontrou de enviar uma mensagem de Natal a todos aqueles que usinam.

"Gostaria de vê-la publicada para que todos recebam um Feliz Natal Técnico", disse. 


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