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As condições favoráveis para a compra de máquinas, equipamentos e veículos pesados ajudaram a impulsionar os investimentos produtivos na primeira metade do ano, mas não foram suficientes para manter a demanda por esses itens aquecida nos últimos meses. Segundo economistas, a deterioração da confiança dos empresários, a volatilidade cambial e o esgotamento do impacto de incentivos e das safras agrícolas levaram a uma retração do consumo aparente de bens de capital até agosto, o que aponta para queda, ou ao menos perda de força, da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) entre o segundo e o terceiro trimestres.
Analistas calculam que, mesmo com os juros reais ainda negativos das linhas do Programa de Sustentação de Investimento (PSI), do BNDES, a produção nacional de máquinas e equipamentos (descontada a exportação) somada à importação desses bens caiu entre 2% e 4% na média de julho e agosto em relação à média do segundo trimestre, feito o ajuste sazonal. Já as projeções preliminares para a evolução dos investimentos dentro do PIB nos três meses até setembro - para o qual dados do consumo interno de máquinas ainda não são conhecidos - vão de relativa estabilidade, com possível recuo, até uma queda de 5,2%.
Na média do trimestre terminado em agosto ante os três meses encerrados em maio, Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, estima que o consumo aparente de bens de capital caiu 0,7%, mesma estimativa para a evolução da formação de capital físico no período. Segundo Bicalho, a absorção doméstica de máquinas tem mostrado forte volatilidade devido ao impacto de exportações contábeis de plataformas de petróleo. No entanto, após o pico observado em abril, estes dados perderam fôlego nos últimos dois meses e, em agosto, ficaram em nível 3% abaixo do que o registrado no quarto mês do ano.
O economista do Itaú avalia que a piora do humor dos empresários industriais, cuja confiança encerrou setembro em patamar 5,6% menor do que o registrado em junho, inibe decisões de investir, assim como o patamar mais depreciado do câmbio e a alta dos juros de mercado, que encarecem as compras de maquinário e tornam os investimentos menos atrativos. Neste cenário, afirma Bicalho, os subsídios do governo perdem efeito. Por ora, o banco trabalha com recuo de 1% da formação de capital físico no terceiro trimestre, após aumento de 3,6% no segundo.
Para o sócio e economista da JGP Gestão de Recursos, Fernando Rocha, é possível que o mês de setembro devolva uma parte da queda de 4% do consumo aparente de máquinas na média de julho e agosto sobre a média do segundo trimestre, de acordo com suas estimativas. Mesmo assim, dificilmente os investimentos devem acumular variação positiva no terceiro trimestre. Ele observa que, na composição de seu cálculo, a produção nacional excluindo-se as vendas externas ficou praticamente estável, enquanto o volume de desembarques de bens de capital caiu 7%.
Esta variação negativa, em sua opinião, pode ser reflexo da forte oscilação cambial. Em agosto, o dólar chegou a ultrapassar R$ 2,40, mas após o Fed (Federal Reserve, banco central americano) ter frustrado expectativas ao não anunciar que os estímulos à economia dos EUA seriam retirados, voltou a ficar mais próximo de R$ 2,20. "Quando o empresário tem um projeto de investimento na mão e não sabe direito o preço do câmbio, é natural que ele espere por um patamar mais estável. Pode ser que, em setembro, a importação de máquinas volte a crescer", comentou.
Segundo o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, os investimentos devem voltar a crescer no quarto trimestre, com o estancamento da retração da confiança, o sucesso "parcial" dos leilões de concessões em infraestrutura, uma maior estabilidade da moeda americana e a entrada em vigor da redução de alíquotas de importação para uma lista de 184 bens de capital. No trimestre encerrado em setembro, contudo, a expectativa é que a FBCF encolha cerca de 1,5%. Para Borges, turbulências internas e externas afetaram o ânimo do empresariado no período e, consequentemente, a demanda por bens de capital, com destaque para as sinalizações de mudança nos rumos da política monetária americana e, do lado doméstico, para as manifestações.
Rodrigo Baggi, analista de bens de capital da Tendências Consultoria, aponta que a produção doméstica de veículos pesados e máquinas agrícolas foi responsável por mais da metade da alta de 14% da fabricação de bens de capital entre janeiro e junho sobre o mesmo período de 2012, mas, em agosto, a contribuição desses segmentos já se reduziu a menos de 30%. "O efeito da safra já passou", disse, o que, aliado ao maior pessimismo e à menor importação de máquinas, deve levar a FBCF a encolher 5,2% no terceiro trimestre. Na média de julho a agosto, ele calcula que o consumo aparente de bens de capital caiu 2,6%.
Se o mês de setembro registrar estabilidade na absorção doméstica de bens de capital, afirma André Muller, da Quest Investimentos, o terceiro trimestre vai mostrar queda de 2,7% do consumo destes itens ante o segundo, feito o ajuste sazonal. Por enquanto, há poucas indicações sobre o que ocorreu com os investimentos no mês passado, afirma Muller, mas é quase certo que a formação de capital físico terminará o trimestre no campo negativo. Ele sustenta que as condições para a compra de bens de capital ainda são favoráveis, mas a confiança menor e o câmbio mais volátil podem ter adiado decisões de investir.
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