Corte de gastos impulsiona manutenção

Empresas de manutenção de máquinas e equipamentos estão animadas com o mercado brasileiro.

Empresas de manutenção de máquinas e equipamentos, que têm entre seus clientes grandes indústrias, estão animadas com o mercado brasileiro. Em um momento de desaceleração econômica e de contenção de investimentos em expansão, a demanda por manutenção se fortalece. Companhias que atuam neste segmento, como Manserv, SKF e Vivante (ex-Dalkia), afirmam que não lhes falta trabalho no país e que estão crescendo a um ritmo de dois dígitos ao ano.
 
Executivos que lideram essas companhias afirmam ao Valor que notam falta de ânimo em seus clientes para investir em novos ativos. Como o que eles fazem é a gestão dos ativos, o que ajuda a prolongar a vida útil dos equipamentos, elevar a produtividade de fábricas e cortar custos, acabam sendo um aliado do setor industrial. "Costumamos dizer que somos uma 'fábrica escondida'", diz Hilário Sinkoc, diretor da divisão de serviços de manutenção da sueca SKF na América Latina.
 
Como resultado de uma demanda firme no país, o faturamento da SKF no segmento de serviços para a indústria foi de R$ 80 milhões de janeiro a julho deste ano, 15% acima do mesmo período do ano passado. Somando todas as áreas de atuação (rolamentos, vedações, mecatrônica e sistemas de lubrificação), a empresa faturou R$ 800 milhões no país em 2012 e, segundo Sinkoc, pretende chegar a R$ 1 bilhão até 2015.
 
De um lado, a indústria brasileira está em um momento de busca por economia e eficiência. De outro, as empresas de gestão de ativos trabalham para elevar a capacidade de produção e para reduzir seus custos, inclusive com a própria manutenção, diz o executivo. "Melhoramos a disponibilidade das empresas", diz. Entre as principais clientes da SKF estão companhias do setor de papel e celulose, como Suzano, Klabin e Fibria, mineração, como Vale e Votorantim, petroquímica, siderurgia, energia e do automobilístico.
 
A brasileira Manserv também diz que os negócios vão bem no país. "O investimento está um pouco recolhido nas empresas, mas nós estamos como nosso orçamento em curso", afirma Waldomiro Modena Filho, presidente da companhia, que fatura em torno de R$ 1 bilhão ao ano, sendo metade de sua receita vinda da manutenção industrial e o restante principalmente de logística e facilities.
 
"Estamos em ambiente global em que os custos têm de ser diminuídos", afirma. Entre os clientes da Manserv, que abriu recentemente uma unidade na Argentina, estão companhias de setores químico, de fertilizantes, de óleo a gás e siderúrgico.
 
A empresa vem crescendo entre 10% e 20% ao ano e pretende manter esta taxa, segundo Modena. Parte do impulso ao setor vem justamente da necessidade das indústrias de otimizar a utilização de equipamentos, já que muitas estão adiando investimentos. Um reflexo disso, diz o executivo, é a ociosidade da produção do setor de bens de capital. Dados recentes da Abimaq, associação que representa o setor de máquinas e equipamentos, mostra que essa indústria está neste ano com uma taxa de ociosidade de 27%. "Isso significa que há menos pedidos", diz.
 
Para Philippe Enaud, presidente da Vivante, a relação inversa entre crescimento econômico e aumento da demanda por manutenção é clara. "Quando a economia avança em um ritmo anual de mais de 4% ou 5%, todo mundo fica mais orientado em crescer, fazer investimentos e consumir. Mas quando o crescimento diminui para patamares menores, de 2% a 3%, as pessoas fazem menos e gerenciam mais, buscam otimização e rentabilidade dos investimentos."
 
Ao mesmo tempo em que o cenário econômico gera demanda adicional, as indústrias continuam a realizar paradas de rotina, o que também significa geração e receita para as empresas de manutenção.
 
No caso da Vivante, que também atua em infraestrutura, facilities e utilidades para empresas dos setores de educação, shoppings e hospitais, a demanda vem sendo puxada pela profissionalização destes setores, diz Enaud, com novas exigências de certificações que exigem mais gestão de ativos. Em 2012, a empresa faturou R$ 330 milhões no Brasil.