As vendas de carros novos no Brasil anularam o crescimento apresentado desde o início do ano e, segundo estimativas de analistas, caminham para fechar agosto com queda de 2%, em valores acumulados desde janeiro.
Dados preliminares dos emplacamentos de automóveis e veículos utilitários leves mostram que o setor perdeu toda a "gordura" acumulada até maio, quando as vendas subiam quase 9%. Fontes com acesso aos números informam que o crescimento do setor já é nulo em relação ao resultado do ano passado.
Até terça-feira (27), as vendas somavam 2,29 milhões no acumulado de 2013, igualando-se ao volume de igual período de 2012. Mas a tendência é que o mercado acentue a queda, terminando agosto com uma diferença de aproximadamente 50 mil carros a menos do que os oito primeiros meses do ano passado.
A desaceleração era aguardada com o fortalecimento da base de comparação, já que agosto de 2012 foi o melhor mês de vendas na história da indústria automobilística brasileira, com mais de 405 mil carros licenciados.
Naquele mês, os consumidores correram às concessionárias para aproveitar o que poderia ser a última chance para aproveitar os descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que chegavam a zerar a alíquota de carros populares. No fim, o governo estendeu o benefício até dezembro, retirando parcialmente os descontos em janeiro.
Analistas, contudo, dizem que o desempenho recente do mercado coloca em risco projeções que apontam a um novo recorde de vendas neste ano. Alguns deles, apesar de uma aguardada retomada do crescimento em setembro, avaliam que a indústria não conseguirá se manter em terreno positivo até dezembro. De acordo com os especialistas, a fraca atividade econômica e a queda na confiança do consumidor seguirão pressionando o mercado.
Para repetir o desempenho recorde de 2012 - de 3,63 milhões de carros emplacados -, o mercado, a partir de agora, terá que movimentar uma média de vendas superior a 323 mil unidades por mês, diz Raphael Galante, da consultoria Oikonomia. Em 2013, essa marca só foi superada em julho, quando 323,9 mil carros foram vendidos. Para Galante, o mais provável é uma queda de 2% neste ano.
Assim como no mês passado, o mercado manteve em agosto um ritmo de vendas próximo a 14 mil carros por dia. Porém, o calendário, desta vez, é comercialmente desfavorável, com um dia útil de venda a menos tanto na comparação com julho como em relação ao mesmo período de 2012. A expectativa de analistas é que o mês termine com vendas na faixa de 307 mil a 310 mil carros, com queda em torno de 4% a 5% na comparação com julho e de 23% a 24% em relação ao mesmo período do ano passado. Até terça-feira, 260,8 mil carros já tinham sido emplacados no país.
Na próxima quinta-feira (5), a Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil, divulga os resultados consolidados de agosto e aguarda-se para a ocasião uma revisão, provavelmente para baixo, das estimativas que apontam para um crescimento de 3,5% a 4,5% das vendas deste ano, incluindo caminhões e ônibus. Antes disso, no início da semana, a Fenabrave divulga como foram as vendas de agosto.
"No início do ano, tínhamos uma expectativa melhor. Mas ainda espero um crescimento ao redor de 1% neste ano", afirma Julian Semple, consultor da Carcon Automotive. Já Stephan Keese, sócio da consultoria Roland Berger, diz que as vendas devem fechar 2013 em nível "muito similar", ao do ano passado.
"A redução do IPI não tem mais o mesmo impacto diante de uma economia mais fraca e da confiança do consumidor em queda", afirma o analista.
Segundo o sócio da Roland Berger, os descontos e estímulos concedidos nas vendas de carros atingiram um nível insustentável, o que forçará o setor a reduzir os esforços de venda. Para Keese, o aumento nos estoques de veículos indica que as montadoras já estão menos dispostas a conceder altos descontos para fechar vendas.
O volume de veículos parados nos pátios da indústria e das concessionárias saiu de um giro equivalente a 33 dias de venda em abril para 39 dias em junho. No mês seguinte, as montadoras reduziram o ritmo de produção, levando os estoques para 35 dias. No total, 395,9 mil veículos estavam estocados no fim do mês passado, sendo a maioria - 297,9 mil unidades - nos pátios das revendas.
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico