A percepção de mudança na evolução do câmbio já leva empresas a revisar seus planos de comércio exterior. Algumas se preparam para intensificar as exportações, enquanto outras começam a aproveitar a maior rentabilidade nas vendas ao exterior para reduzir preços ou reconquistar mercados.
Com o novo cenário cambial, a fabricante de calçados Democrata passou a levar em conta a desvalorização do real na formação de preço de exportação desde julho, quando o dólar ficou em torno de R$ 2,30. Os novos preços foram aplicados na venda da nova coleção, diz Maurício Donato, supervisor de comércio exterior da Democrata. Cerca de 25% do faturamento da empresa vem de vendas ao exterior. "Como o mercado internacional ainda está ruim, é uma forma de tornar nosso produto mais competitivo." Ele não soube informar, porém, qual o percentual médio de redução.
Na Metalplan a desvalorização já propiciou aumento da fatia de faturamento com exportação. A desvalorização do real frente ao dólar no ano passado já havia ajudado a empresa a elevar essa fatia de 5%, em 2011, para 7% em 2012. Neste ano, conta o diretor Edgard Dutra, com o ritmo mais acelerado de desvalorização cambial, a empresa já tem 10% do faturamento vindo de vendas ao exterior. O dólar mais caro, diz ele, ajudou a fabricante de bens de capital a voltar a vender para clientes americanos, mas ainda não permitiu reduzir os preços de exportação. "A pressão da desvalorização sobre o custo de produção ainda dificulta isso."
Além disso, Dutra explica que, no período em que o real manteve valorização frente ao dólar, a Metalplan não reajustou os preços para cima no mesmo nível de redução da moeda americana. "Naquele período eu precisaria ter elevado os preços em cerca de 50% para segurar a rentabilidade. Mas reduzimos a margem para manter mercados, e o reajuste foi de 20%."
Na fabricante de caminhões e ônibus Marcopolo, a alta do dólar mudou a estratégia da empresa. O diretor-presidente da companhia, José Rubens de la Rosa afirmou que a alta do dólar, mais intensa nos últimos dias, elevou a competitividade das exportações. "Nossa equipe de exportação está recebendo grandes instruções para viajar mais, sair mais." O que é preciso saber, segundo ele, é em que patamar o dólar vai se estabilizar, já que a companhia pode levar até um ano entre o dia da encomenda e a entrega do produto.
Para dar mais segurança às operações da Marcopolo, todos os contratos da companhia são fechados com proteção em hedge, a fim de evitar a exposição pós-venda. Segundo Rosa, as exportações se mantêm firmes, mesmo em períodos de instabilidade. O dólar mais alto, afirma, permite intensificar as vendas em alguns mercados. Dentre as regiões onde a Marcopolo espera ter mais competitividade com o câmbio mais desvalorizado está o Oriente Médio. O executivo ainda enxerga um espaço para a elevação da moeda americana e aposta que o valor do dólar em 2014 será mais forte do que o observado em 2012 e no início deste ano. Isso deve ser influenciado, de acordo com o executivo da Marcopolo, pela provável redução da liquidez global, com tendência de desvalorização do real.
"Subjacente a isso, temos necessidade de equilibrar algumas contas no mercado nacional e elas vão levar a alguma apreciação do dólar. Não vejo o dólar descendente", conclui Rosa.
Na área de têxteis, a Teka e a Döhler também refizeram as estratégias de exportação para 2014. Com peso de cerca de 5% no faturamento total, as vendas ao exterior ganharam novo estímulo na Teka, traduzido em reforço da equipe e busca clientes no exterior. Segundo Marcello Stewers, presidente da Teka, a mudança de patamar cambial deve incrementar o volume de vendas aos latino-americanos. "Mas para onde há mercado grande mesmo, Estados Unidos e Europa, só conseguimos ser competitivos com o dólar a R$ 2,70".
Já a Döhler planeja aumentar as transações comerciais com o mercado americano. Mas, de acordo com o diretor comercial, Carlos Alexandre Döhler, a estratégia de comércio exterior da empresa para 2014 não foi afetada pela desvalorização do real, que está baseada no câmbio "em um patamar conservador, de R$ 2,20". "Projetamos aumento de 10% da produção para 2014. Isso não significa que estamos ávidos por exportar mais, até porque o mercado brasileiro é que vai puxar nosso crescimento. Vamos esperar para ver até onde vai o novo câmbio."
Lilia Miranda, diretora executiva da Associação Brasileira de Empresa de Comércio Exterior (Abece), reconhece que o patamar do dólar favoreceu muito o setor porque as empresas estavam sofrendo com o real valorizado. Ela diz, porém, que a contribuição do câmbio é relativa. "Existe uma série de questões importantes para a competitividade de empresas, entre elas a necessidade de melhoria em logística."