Em meio à perspectiva de um fluxo menor de dólares neste ano já começa a ser discutida no mercado a possibilidade de o governo reduzir o prazo durante o qual as empresas podem manter lá fora as receitas de suas exportações - ou até mesmo o volume permitido. Atualmente, as companhias podem esperar até 750 dias para liquidar os contratos de exportação (a partir da data de contratação da operação) e podem manter até 100% das receitas no exterior durante esse período. "O governo poderia reduzir gradualmente esse prazo para trazer parte dos recursos deixados lá fora para o Brasil, o que ajudaria a reduzir a pressão de alta do dólar", afirma Sidnei Nehme, diretor executivo da corretora NGO.
Com a alta do dólar, alguns exportadores aproveitaram para trazer parte dos recursos deixados lá fora. A diferença entre o volume de câmbio contratado para exportação e o montante efetivamente embarcado em 12 meses - um indicador de quanto de receita os exportadores podem estar mantendo no exterior - caiu de US$ 25,669 bilhões em abril para US$ 14,693 bilhões em maio. Não por acaso, o fluxo comercial no mês passado foi positivo em US$ 14,098 bilhões, maior saldo mensal de toda da série histórica do Banco Central.
Segundo Nehme, o atual patamar do dólar já seria atrativo para um ingresso dos recursos deixados no exterior. Além disso, o ciclo de aumento da taxa básica de juros, hoje em 8%, torna as aplicações no mercado brasileiro mais atrativas que as do exterior.
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, essa medida poderia trazer mais incertezas para o mercado. "Toda vez que a taxa de câmbio melhora, os exportadores trazem dólar para o Brasil, só que existe a expectativa de que o dólar pode subir mais."
Ao mesmo tempo em que as exportações voltam a crescer timidamente, as importações aumentam num ritmo mais intenso, conforme as empresas correram para fechar contratos de câmbio temendo uma alta maior do dólar. Por isso, o câmbio contratado para exportação não foi suficiente para cobrir o aumento do fechamento de câmbio para importação, o que levou o fluxo de câmbio comercial a ficar negativo em US$ 548 milhões em junho até o dia 21.
Diferentemente do que ocorreu na crise de 2008, os bancos ainda não veem um risco de diminuição da oferta dessas linhas para exportadores brasileiros, mesmo em um cenário de redução dos estímulos econômicos por parte do banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve). "Os bancos brasileiros estão com grande liquidez, e hoje há mais oferta do que procura no mercado para essas linhas", afirma Samuel Canineu, diretor do ING.
O vice-presidente do Santander, João Consiglio, também não vê impacto com uma mudança do programa de estímulos por parte do Fed. "Isso muda as expectativas, mas o impacto para a liquidez dessas linhas é marginal", afirma.