As vendas de máquinas agrícolas alcançaram renda bruta acumulada de R$ 3,7 bilhões nos primeiros quatro meses de 2013. Trata-se de um avanço de 19,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O clima do setor, no entanto, não é de otimismo, já que desafios estruturais podem ameaçar a cadeia produtiva no futuro.
Gilberto Zancopé, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entende que o bom desempenho é resultado da continuidade de investimentos. Para ele, os produtores devem seguir renovando suas frotas, capitalizados por boas safras e apoiados pela manutenção da oferta de financiamentos. “Acreditamos que será possível alcançar um crescimento da ordem de 10% (até o fim do ano)”, projeta.
De acordo com Zancopé, a manutenção até dezembro dos juros das linhas de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), colabora para conservar os negócios aquecidos. “É importante que o governo assegure desde já a prorrogação das linhas de crédito para 2014”, defende.
Sobre exportações, Zancopé analisa que o País teve reduzida a sua competitividade devido ao chamado Custo Brasil: logística, impostos e câmbio. “Já perdemos os mercados da África, Europa, Ásia e estamos sendo atacados na América Latina”, alerta.
Para ele, o setor ainda não teve prejuízos no mercado interno em razão da proteção ao fabricante nacional. Mas acredita que a situação não seja sustentável no longo prazo. “A sensação é a de que estamos fazendo uma festa em um lago congelado no meio da Primavera. Sabemos que o Verão não tarda, que o gelo vai derreter e, se nada for feito para assegurar a competitividade das empresas brasileiras, todo mundo pode afundar”, afirma.
Desoneração
Como medida urgente, Zancopé defende a desoneração de máquinas agrícolas, argumentando que não se deve tributar o investimento. “Um empresário compra uma máquina para produzir mais, e esse produto é que deve ser tributado, e não o investimento”, alega. No momento, a CSMIA discute, no Congresso Nacional, a redução do PIS-COFINS do setor de máquinas agrícolas em uma Medida Provisória.
Outro desafio, segundo o dirigente, está na preparação das empresas brasileiras para o “inevitável” processo de consolidação. Graças ao bom momento da agricultura e do setor de máquinas, ele vê uma tendência em atrair grandes investidores dispostos a explorar o mercado brasileiro, o que pode provocar ou acelerar fusões, incorporações e aquisições.
Tecnologia
Para a estratégia de longo prazo, o setor deve elevar ainda mais o padrão tecnológico e investir em inovação, segundo o presidente da CSMIA. Como exemplos, cita a plantadeira para o plantio direto, a colhedora de café e o pulverizador autopropelido. “Se as empresas souberem se aproximar do agricultor, a inovação vai acontecer”, considera.
A CSMIA firmou, recentemente, acordo de cooperação técnica com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas e com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para dar suporte aos associados nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e inovação.