Empresa do ABC vai exportar carro esportivo aos EUA

Fabricante do modelo Sigma fez contrato para vender pelo menos 375 unidades do carro, que custa entre R$ 180 mil e R$ 260 mil.

A Sigma Sport Car, uma micromontadora de Santo André, no ABC paulista, conseguiu o que grandes multinacionais que atuam no País sonham: exportar veículos para os Estados Unidos, segundo maior mercado automotivo mundial, depois da China.
 
A empresa já tem contrato para exportar pelo menos 375 unidades do esportivo Sigma, carro desenvolvido e produzido artesanalmente pelos irmãos Luiz e Ricardo Rodrigues da Silva. No Brasil, há apenas sete unidades do fora de série, que custa entre R$ 180 mil e R$ 260 mil, dependendo das especificações.
 
As 100 primeiras unidades serão exportadas em 2014. Outras 125 seguem no ano seguinte e 150 em 2016. Os veículos serão enviados aos Estados Unidos em forma de CKD (desmontados).
 
A encomenda foi feita pela empresa americana de consultoria CVI, representante de um grupo de investidores que também atua no segmento de carros elétricos. O grupo estuda uma parceria com a Sigma para, futuramente, produzir o esportivo nos EUA, em razão de custos menores.
 
Segundo Ricardo, o grupo viu de perto o projeto brasileiro em 2011, no Sema Show, maior evento mundial de carros especiais (réplicas, customizados, tunados) que ocorre anualmente em Las Vegas. "Três empresas se interessaram, mas escolhemos a CVI", diz.
 
Cada carro leva em média cinco meses para ser montado, de forma totalmente artesanal e com boa parte das peças produzidas pela própria Sigma. Para dar conta do novo contrato, Ricardo alterou o processo produtivo e a capacidade passará a 10 veículos por mês.
 
Ele busca agora uma área maior para a linha de produção, no interior de São Paulo, pois o galpão de Santo André não comporta a expansão. A partir de agosto, ele também vai ampliar o quadro atual de 9 para 70 a 80 funcionários. Além de produzir o Sigma, a empresa presta serviços de customização para terceiros.
 
O Sigma tem estilo dos chamados hot-rod - réplicas de carros antigos modificados para alto desempenho. Seu visual é inspirado no Chevrolet 1934, mas tem chassi próprio, carroceria de fibra, espaço para dois passageiros e motor V8 de 5,7 litros como o utilizado na Stock Car. Motor e câmbio são americanos (da General Motors).
 
O projeto nasceu há sete anos. Os irmãos mantêm uma empresa de manutenção e automação mecânica, que operava com ociosidade na funilaria. Para ocupar a capacidade, decidiram unir um hobby à necessidade: produzir um carro próprio. Ricardo, que é desenhista projetista e piloto de carros de competição, criou o projeto.
 
O primeiro Sigma ficou pronto em 2009. Desde então, chama a atenção cada vez que é retirado da garagem. O veículo é licenciado como protótipo e pode circular pelas ruas, mas é nas pistas de autódromos que mostra sua força: acelera acima de 200 quilômetros por hora em segundos.
 
Mercado
 
Ricardo admite que o preço não é atrativo para o mercado brasileiro. A partir do próximo ano, a produção está voltada para o mercado americano, onde esse nicho vende cerca de 5 mil carros por ano. Não há números de vendas no Brasil, mas não deve chegar a 200 unidades ao ano, conforme estimativa de Eduardo Bernasconi, diretor editorial da revista especializada Full Power.
 
Ele lembra que há pelo menos quatro pequenas empresas atuando nesse ramo: Lobini, Chamonix, Guedala e Personal Parts, além das pessoas que montam seus próprios carros hot-rod, como o empresário Paulo Solti, presidente da Volvo Cars do Brasil.
 
Solti acredita que, nos próximos dez anos, a demanda por carros especiais vai crescer no Brasil e haverá uma indústria de customização. "Primeiro houve o movimento do primeiro carro zero, depois as pessoas começaram a comprar carros mais equipados e, mais recentemente, carros de luxo", diz o executivo. "No futuro, haverá o movimento daqueles que querem um carro por prazer, customizado, feito sob medida."
 
Hoje, é um negócio movido a paixão. "Tenho necessidade de estar perto, de acompanhar todo o processo de montagem dos carros e fico triste quando chega o fim de semana, pois não vou estar na oficina", diz Ricardo, que tem 52 anos.
 
Por Cleide Silva/ O Estado de S.Paulo