A economia americana exibe uma série de indicadores positivos que mostram um processo de recuperação e já levam alguns analistas a afirmarem que a crise de 2008 está chegando ao fim no país. E isso acontece exatamente quando o Brasil atravessa um momento difícil, com inflação em alta, crescimento pífio, capacidade de consumo das famílias se esgotando e as contas do governo vistas com desconfiança pelo mercado.
"Pela primeira vez desde a grande recessão de 2008 e 2009 há sinais sólidos de recuperação dos Estados Unidos. A trajetória para os próximos anos é de crescimento, houve um ajuste fiscal colossal, há alta nos preços dos imóveis e das ações , recuo no custo da energia e a inflação está baixa", diz o presidente da InterB Consultoria Internacional, Claudio Frischtak.
A inflação acumulada em 12 meses nos EUA está em 1,1%, bem abaixo dos 2% da meta prevista pelo governo. No Brasil chega a 6,5%, teto da meta. Já o déficit do setor público americano deve ficar em 4% do PIB este ano, segundo projeções do Escritório de Orçamento do Congresso, depois de atingir 7% em 2012 e mais de 10% em 2009. O preço dos imóveis subiram 10,9% em março sobre igual mês de 2012, o maior aumento em sete anos.
Mercado de trabalho melhora há 8 meses
Monica de Bolle, economista da Casa das Garças e professora da PUC-RJ, também vê um processo de recuperação consistente. Segundo ela, mesmo que os números do crescimento dos EUA não mostrem grandes mudanças, dados do mercado de trabalho e das contas do governo deixam claros os avanços.
"O mercado de trabalho registra melhora sistemática há oito meses, há criação de vagas há mais de um semestre. O desemprego voltou a subir, mas por uma razão positiva, há mais pessoas procurando emprego. E o principal: a questão fiscal melhorou, com alta de receitas e uma redução de déficit superior às previsões. Os EUA estão saindo da crise no momento em que a situação no Brasil piora", diz.
Para o coordenador do grupo de Conjuntura do Ipea, Fernando Ribeiro, a situação atual da economia americana "em geral é muito boa", mas a grande dívida que resta da crise está no mercado de trabalho, porque ainda há quase 5 milhões de desempregados a mais do que antes da crise. "Os EUA estão se recuperando dentro das expectativas e o Brasil vai num ritmo muito inferior ao que a gente gostaria e seria desejável", explica Ribeiro.
Mas a maior divergência que ele vê está no desempenho dos setores, já que nos EUA a indústria tem forte expansão e os serviços crescem pouco, enquanto no Brasil ocorre o oposto. "Desde 2009, a indústria americana cresceu 15% e os serviços, 2,5%. Como o setor de serviços é o grande gerador de emprego, se ele cresce menos de 1% ao ano, dá para imaginar porque a reação do mercado de trabalho é mais lenta", complementa.
Alex Agostini, economista-chefe da Austing Rating, não tem dúvidas sobre o processo de recuperação da economia dos EUA, mas acha prematuro dizer que esse movimento é sustentável. Ele afirma, porém, que a valorização do dólar em todo o mundo é mais um sinal de que os investidores estão apostando no país. "Alguns países vão sofrer mais com a alta do dólar e o Brasil, infelizmente, é um deles", diz o economista.
Dados divulgados nesta quinta-feira (13) mostram que as vendas no varejo americano subiram 0,6% acima dos 0,1% de abril, e o número de pedidos de seguro-desemprego caiu semana passada. Na segunda-feira, a agência de classificação de risco Standard&Poor"s (S&P) elevou a perspectiva do rating dos EUA de negativa para estável. Na sexta-feira, a agência baixou a perspectiva da nota do Brasil de estável para negativa.
O professor da UFRJ Luiz Carlos Prado também vê sinais positivos, mas é cauteloso: É cedo para dizer que é um processo pleno de recuperação.