Repasse da Selic ao crédito já começou

Um estudo feito pela MCM Consultores Associados confirma a forte correlação entre os movimentos da taxa básica de juros e a taxa média cobrada de pessoas físicas nas operações com recursos livres.

Embora os bancos relutem em afirmar publicamente que um aumento na taxa básica de juros resulte em um encarecimento do crédito na ponta, dados históricos mostram que essa é uma consequência um tanto inevitável.
 
Um estudo feito pela MCM Consultores Associados confirma a forte correlação entre os movimentos da taxa básica de juros e a taxa média cobrada de pessoas físicas nas operações com recursos livres. "Um aumento de 1 ponto percentual na Selic gera incremento de 1,19 ponto percentual na taxa bancária", conclui o trabalho. "Com isso, podemos afirmar que o quadro para o comprometimento de renda não é favorável."
 
Dados do Banco Central mostram que já houve, pelo menos em parte, um repasse do aumento do custo de funding dos bancos neste ano. A taxa média de juros do crédito com recursos livres, que é suscetível a aumentos da Selic e do juro real, saiu de 25,3% ao ano em dezembro de 2012, o nível mais baixo da série histórica, para 26,2% em janeiro, 26,5% em fevereiro, 26,1% em março e 26,3% em abril. Esses dados mostram que, mesmo antes de o Copom sinalizar o aperto, os ajustes já vinham sendo feitos.
 
Os incrementos não ocorreram de forma linear, o que evidencia que há fatores além do custo de funding influenciando a formação dos juros ao tomador. Elementos como a inadimplência e as garantias envolvidas em algumas operações também são fundamentais na hora de determinar a taxa final.
 
"A escalada de alta dos contratos de swap 360 [contratos que permitem a troca de taxa prefixada por pós] no período recente dá uma medida da elevação do custo de funding dos bancos. Grande parte da captação dos bancos está centrada em depósitos a prazo, Letras de Crédito Imobiliárias, Letras de Crédito do Agronegócio e letras financeiras, com indexação ao CDI", diz o economista da LCA Consultores, Wermeson França.
 
No médio prazo, porém, o aumento da Selic é positivo para os bancos, afirma Eduardo Nishio, analista de instituições financeiras do Brasil Plural. Embora traga impactos negativos em passivos indexados ao CDI, a avaliação é que os bancos tendem a se beneficiar do repasse aos consumidores abrindo folga nos spreads das operações de crédito. Ele também lembra que, historicamente, os bancos brasileiros se mostraram eficientes em obter ganhos de tesouraria em tempos de juros elevados.
 
Por Felipe Marques e Karin Sato/ Valor Econômico 

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