Reunião de Dilma segura alta do dólar

Reunião de Dilma segura alta do dólar

Somente a expectativa sobre o resultado da reunião entre a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, conseguiu arrefecer a escalada do dólar ontem. A moeda norte-americana bateu nos R$ 2,16 pelo segundo pregão seguido e se acomodou em R$ 2,13, com queda de 0,53%. Nem mesmo as intervenções do Banco Central (BC), que inundou o mercado com mais US$ 1 bilhão, realizando — pela segunda vez consecutiva — dois leilões de swap cambial no mercado futuro em um mesmo dia, foram suficientes para conter a valorização da divisa dos Estados Unidos frente ao real.
 
Marcado por intenso nervosismo, o dia começou com o dólar em disparada. A moeda foi a R$ 2,166 na máxima, o que provocou as intervenções, sem sucesso, do BC. "Foi uma queda de braço. O mercado só se acalmou na expectativa de alguma medida que atraia mais capital estrangeiro", alertou o gerente de Câmbio da Fair Corretora, Mário Battistel. Na avaliação do economista, é possível que o governo decida zerar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), tanto sobre os empréstimos com prazo abaixo de um ano, quanto sobre os derivativos — ambos com taxas de 6% —, a exemplo do que já fez com a entrada de capital externo para renda fixa. "É provável que a medida surta efeito, já que o BC aumentou um pouco a taxa de juros básica (Selic)", afirmou.
 
Para o economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank (BES), Jankiel Santos, o governo poderia tomar alguma medida durante a reunião ou não fazer nada, o que acabou se confirmando. "O mercado estava apostando que saísse alguma decisão importante da reunião entre a presidente Dilma e o ministro Mantega", afirmou. Como não veio nada, ele acredita em mais um dia de enfrentamento entre o mercado e o BC.
 
Na avaliação de Santos, os motivos para a valorização da moeda norte-americana continuam os mesmos. A melhora da economia dos Estados Unidos e a sinalização do Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, de que poderá retirar ou reduzir os estímulos à economia, que hoje garantem a injeção de US$ 85 bilhões mensais no mercado, são dois deles. A desaceleração da economia da China, que afeta diretamente os países produtores de commodities, como o Brasil, é outro.
 
"Não houve nenhum fato adicional, por isso o BC interveio quando o dólar bateu nos R$ 2,16 e está acenando para o mercado que quer evitar a volatilidade de preços, ou seja, movimentos bruscos descolados de fundamentos", disse o economista do BES. "Por enquanto, ninguém sabe ao certo qual será o novo patamar do dólar para medir o impacto na inflação. Quando ficar definida uma nova banda cambial, o impacto será perceptível sobre os preços", estimou.
 
Péssimo desempenho
 
O real já perdeu 7% de valor frente ao dólar desde 1º de maio, registrando a quinta maior desvalorização entre as 30 moedas mais importantes do planeta, atrás apenas das divisas da África do Sul, Austrália, Índia e Nova Zelândia. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco HSBC. Na análise do economista da instituição, David Bloom, os países exportadores de commodities e emergentes foram os principais prejudicados pela alta do dólar. Mas ele reconheceu que fatores locais potencializam o movimento em alguns países, como a deterioração das contas externas. O Brasil terá, neste ano, rombo recorde de US$ 67 bilhões, pelas projeções do Banco Central, e de US$ 73 bilhões, segundo o mercado.
 
"Diante de um dólar mais forte, os países emergentes poderiam ter uma ajuda de competitividade para exportar, mas a possibilidade de ganho crescente em dólar gera preocupação sobre uma desaceleração na entrada de capitais nessas economias", destacou Bloom.

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