Com queda acumulada de 0,5% no primeiro trimestre, a produção industrial deve avançar entre 0,5% e 1,7% em abril, frente a março, de acordo com projeções de analistas para o dado que será divulgado hoje pelo IBGE. Se confirmado o aumento, será o segundo mês seguido de expansão, após um período de altos e baixos. A atividade industrial subiu 0,7% em março, caiu 2,4% em fevereiro e teve ganho de 2,7% em janeiro, na comparação com o mês imediatamente anterior. Indicadores antecedentes positivos, como produção de veículos e de papelão ondulado e fluxo de veículos pesados nas estradas, são citados para explicar a expectativa de melhora da atividade.
"Os números antecedentes foram positivos, o que contribui para nossa projeção para o bom desempenho da indústria em abril. Mas ainda é uma recuperação concentrada em alguns setores", explica a economista-chefe da Rosenberg&Associados, Thaís Marzola Zara, que estima alta de 1,7% da produção industrial.
A avaliação de uma expansão que não é disseminada por todos os setores é compartilhada por Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. Ele lembra que no primeiro trimestre o desempenho da indústria extrativista foi fraco, enquanto a indústria de transformação teve resultado melhor, com destaque para bens de capitais (máquinas e equipamentos).
"Esperamos que se mantenha a tendência de alta, mas num ritmo moderado, o que coloca certa cautela para falar em recuperação", diz Bacciotti, que estima alta de 1% em abril frente a março.
Com a menor estimativa do mercado, de 0,5% frente a março, a LCA Consultores vê de maneira positiva a segunda alta seguida da indústria.
"Há um mês, nossa projeção era de queda de 0,7% em abril, mas ao longo do mês os indicadores vieram com viés positivo e motivaram nossa revisão. Mas ainda não é uma retomada consistente", afirma o economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida.
Uma questão que vai nortear a indústria daqui para a frente será o impacto da alta do dólar. Se por um lado isso torna as exportações mais competitivas, por outro pressiona os custos de quem importa insumos e de quem tem endividamento na moeda americana. Não há como estimar, segundo economistas, qual será o efeito na indústria como um todo.
Já o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse que o aumento dos juros no país será positivo para a economia brasileira, porque vai "remover a incerteza" em relação à trajetória da inflação. Ainda segundo ele, a alta da Selic não vai mexer com as taxas embutidas nos financiamentos do BNDES, que estão voltadas a operações de longo prazo. "Não vejo contradição entre subir a taxa de juros para manter a inflação sob controle e, de outro lado, reforçar a confiança empresarial para que os investimentos continuem em crescimento", disse. (Colaborou Roberta Scrivano)
Por Lucianne Carneiro/ O Globo