Dólar acima de R$ 2,14 reaquece preocupação com impacto inflacionário

Dólar acima de R$ 2,14 reaquece preocupação com impacto inflacionário

Nem o aumento da taxa Selic para 8% nem a atuação do Banco Central no mercado de câmbio foram suficientes para segurar a alta do dólar comercial, que subiu 1,37% na sexta-feira e fechou cotado a R$ 2,143, maior patamar desde 5 de maio de 2009, encerrando o mês com valorização de 7,10%. O avanço do dólar já começa a trazer preocupação sobre o impacto para a inflação.
 
Para José Carlos Amado, operador de câmbio da corretora Renascença, o movimento reflete uma correção do câmbio, uma vez que o real era uma das moedas emergentes que apresentava menor desvalorização no ano em relação ao dólar entre as divisas de mercados emergentes. No ano, o real cai 4,67% em relação ao dólar, inferior à desvalorização de outras moedas emergentes como o dólar australiano (-7,40%), o rand sul-africano (-15,78%), o won da Coreia do Sul (-5,76%) e o zloty da Polônia (-5,90).
 
O dólar veio ganhando força no exterior desde abril diante dos sinais de recuperação da economia americana e da expectativa de que banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve) reduziria os estímulos monetários.
 
Para a economista do Santander Adriana Dupita, o avanço do câmbio do patamar de R$ 2 para R$ 2,10 pode ter um impacto de 0,5 a 0,7 ponto percentual no repasse para a inflação nos próximos 12 meses. O banco trabalha com uma projeção de R$ 2,10 para o dólar em 2013 e de 6% de alta para o IPCA. "Para que esse repasse ocorra, o dólar tem de permanecer nos próximos 12 meses acima de R$ 2,10." A inflação acumulada nos últimos 12 meses até abril era de 6,49%, próxima do teto da meta, de 6,5%.
 
O BC deve permitir a desvalorização do câmbio de maneira controlada para não causar muito impacto para a inflação, afirma o economista-chefe do Banco J. Safra, Carlos Kawall. Ele prevê que o repasse da alta do dólar para R$ 2,15 para a inflação é da ordem de 0,2 a 0,3 ponto percentual em um prazo de 12 meses. "O governo deve deixar o câmbio ir na direção dos fundamentos que levam para uma desvalorização, dado o movimento de alta do dólar no mercado externo e o déficit na conta corrente."
 
A alta da moeda americana levou o BC a voltar a atuar no mercado de câmbio. Na sexta-feira, a autoridade monetária vendeu 17.600 contratos de swap cambial (que equivale a uma venda futura de dólares) e que somaram US$ 876,7 milhões, respondendo por 59% do volume ofertado de 30 mil contratos. "Não há falta de dólares no mercado, o BC não vendeu o lote inteiro por questão de taxa que os dealers estavam pedindo", diz João Medeiros, diretor de câmbio da Pioneer Corretora.
 
O BC não atuava no mercado de câmbio desde 27 de março, quando colocou US$ 995,1 milhões em contratos de swap cambial. A leitura do mercado é que o BC atuou apenas para tentar controlar a volatilidade e prover liquidez e não para manter uma banda cambial informal para a moeda, como vinha fazendo até então.
 
Por Silvia Rosa/ Valor Econômico
 

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