Gerdau e JBS captam mais de US$ 1 bilhão com bônus externo

A Gerdau captou US$ 750 milhões em títulos de dez anos, mas a demanda dos investidores superou os US$ 4 bilhões.

Depois de um primeiro trimestre fraco para emissões brasileiras de bônus no exterior, abril promete uma retomada. Só ontem, Gerdau e JBS captaram mais de US$ 1 bilhão. E há outras quatro operações em andamento, em fase de "road show", que devem levantar pelo menos mais US$ 1 bilhão.

Entre janeiro e março, o volume captado por emissores brasileiros caiu 65,7% em relação ao mesmo período de 2012, para US$ 8,5 bilhões. Segundo fontes do mercado, a queda deve-se muito mais a uma decisão do emissor do que do investidor, já que muitos encheram o caixa no ano passado. Ontem, essa visão foi confirmada.
 
A Gerdau captou US$ 750 milhões em títulos de dez anos, mas a demanda dos investidores superou os US$ 4 bilhões, segundo fonte de mercado. Com isso, a operação, que saiu com uma estimativa inicial de levantar US$ 500 milhões a um rendimento de 5,125% ao ano, fechou com retorno de 4,875% ao ano. O cupom (juro nominal) do papel ficou em 4,75%, ou 99,02% de valor de face.
 
Os recursos da emissão, liderada pelo Morgan Stanley e J.P. Morgan, serão usados para pagar dívida, segundo fonte. A última vez que a companhia recorreu ao mercado de bônus foi em outubro de 2010, quando captou US$ 1,250 bilhão com títulos para 2021. Na época, a emissão saiu com retorno ao investidor de 5,785% ao ano.
 
Segundo fonte do mercado, o sucesso da colocação é fruto do nome Gerdau, um dos principais do setor siderúrgico pelo seu conservadorismo e balanço mais equilibrado, além da demanda reprimida por papéis "investment grade".
 
Já o frigorífico JBS captou mais US$ 275 milhões com a reabertura de uma emissão realizada em fevereiro deste ano, com vencimento em 2023. Os títulos, que contam com garantia pela holding da empresa no Brasil e na Hungria, foram emitidos com retorno ao investidor de 6,25% ao ano e a 99,989% de seu valor de face.
 
Segundo Wilson Ohara, superintendente sênior de mercado de capitais e soluções de tesouraria do Deutsche Bank - um dos coordenadores da operação ao lado de J.P. Morgan e Santander -, a demanda foi quase três vezes maior, o que fez com que o que retorno ao investidor caísse de 6,3%, inicialmente previstos, para 6,25% ao ano. Na primeira tranche, o JBS captou US$ 500 milhões, pagando 6,5% ao ano.
 
"[O] JBS decidiu fazer a reabertura para se aproveitar do bom momento de mercado e a contínua demanda dos investidores por papéis da companhia, o que a levou a pagar um preço mais baixo que o da operação original", destaca Ohara. Em relação ao mercado secundário, diz, a companhia pagou um prêmio de apenas oito pontos base. Ainda segundo Ohara, os recursos serão usados para refinanciar dívidas de curto prazo.
 
Entre as companhias em "road show", destaca-se o BTG Investments. Braço de "private equity" do grupo BTG Pactual, a empresa planeja levantar pelo menos US$ 500 milhões em títulos de cinco anos, a um retorno para o investidor de 4,75% ao ano. A captação, que tem garantia da BTG Pactual Holding, é coordenada pelo Bank of America Merrill Lynch, BB Securities, Bradesco BBI e Citi, além do BTG Pactual, e faz parte de um programa de US$ 2 bilhões. O "road show" termina na quarta-feira.
 
Ainda ontem, anunciaram "road show" para o dia 10 a construtora OAS e a produtora de açúcar e etanol Aralco. As empresas esperam captar entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões, cada. A OAS, porém, avalia o apetite do investidor para bônus perpétuos nos Estados Unidos, Europa e Ásia. A empresa estreou no mercado externo em 2012, quando captou US$ 500 milhões para sete anos.
 
Outro que está em visita a investidores na Grã-Bretanha e Suíça é o Fibra. O banco, classificado como grau especulativo, não acessa o mercado desde junho de 2011.
 
Para Leandro Mirada, diretor de mercado de capitais do Bradesco BBI, a ausência de emissões "grau de investimento" nos últimos meses abre espaço para operações de companhias de menor porte e com perfil de crédito mais arriscado. "Os grandes emissores, que representam cerca de 70% do volume captado anualmente, esperam o momento ideal para ir a mercado. Enquanto isso, empresas com perfil menos arriscado se aproveitam da forte liquidez externa."
 
Por Alessandra Bellotto e Filipe Pacheco/ Valor Econômico