A indústria surpreendeu e mostrou os primeiros sinais de retomada em janeiro. Depois de terminar 2012 em recessão, apresentou avanço de 2,5% frente a dezembro — a maior taxa em 34 meses. Na comparação com igual período do ano passado, a alta foi de 5,7%. Apesar dos bons números, segundo analistas, ainda é cedo para garantir que o setor tenha assumido uma trajetória consistente de retomada, sobretudo devido à crescente concorrência com os importados e à baixa produtividade da mão de obra e das fábricas. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram ainda que o crescimento alcançou a maioria dos ramos industriais: 18 dos 27 segmentos pesquisados registraram expansão.
Para o governo, os números divulgados ontem (7) foram um alívio, sobretudo porque a fabricação de bens de capital — máquinas e equipamentos usados para expandir a produção — cresceram expressivamente. Na prática, isso significa mais investimentos, justamente o que o Palácio do Planalto deseja estimular para diminuir a inflação e impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB). O segmento registrou alta de 17,3% na comparação com janeiro do ano passado, um desempenho que encerrou 16 meses de recessão nesse ramo da indústria.
"Janeiro mostrou um comportamento positivo sob qualquer detalhamento que se faça. Nos bens de capital, o bom desempenho foi puxado principalmente pelos caminhões", explicou André Macedo, técnico do IBGE responsável pela pesquisa. Segundo o instituto, o segmento de equipamentos de transporte teve crescimento atípico para o mês e registrou elevação de 61,3%. Somente a fabricação de caminhões aumentou 206%, mas a magnitude desse número sofreu influência de uma paralisação das montadoras, em janeiro do ano passado, motivada por mudanças nos motores para reduzir a poluição. A produção de automóveis, por sua vez, avançou 25,3%, garantindo o bom resultado apresentado pelo ramo de bens de consumo duráveis.
Tendência
O governo já esperava uma recuperação da indústria em janeiro, mas não contava com expansão tão expressiva. Para a equipe econômica, os números refletem as medidas para estimular a economia, como a desoneração tributária de vários setores produtivos e a redução do IPI para veículos e eletrodomésticos. Nem o Planalto nem os especialistas, contudo, acreditam que o resultado expressivo do primeiro mês do ano se repita em fevereiro. As informações preliminares, ao contrário, indicam que houve retração.
"Levando em consideração os indicadores antecedentes, não esperamos que o desempenho de janeiro vá se repetir no mês seguinte", ponderou Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil. Segundo ela, o Índice de Confiança do Empresário Industrial, medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), apresentou estabilidade entre janeiro e fevereiro. Além disso, a produção de caminhões encolheu 1,6%, e a de automóveis caiu 14,1%. Diante disso, a expectativa é de um resultado fraco ou mesmo negativo no segundo mês de 2013.
Estoques
Na visão do Itaú Unibanco, o avanço da indústria em janeiro pode ter sido apenas pontual. "Avaliamos que esta alta foi em grande parte determinada por fatores de curto prazo, como recomposição de estoques em alguns setores", avaliou Aurélio Bicalho, economista da instituição. Segundo ele, embora o crescimento tenha sido disseminado, alcançou menos segmentos do que o usual em um avanço dessa magnitude. "Para fevereiro, os sinais são de queda, compensando parte da alta de janeiro", acrescentou. Na previsão do economista, os dados do mês passado devem mostrar uma queda de 1,8% na produção industrial. No entanto, o avanço do início do ano já ajudou a melhorar os números gerais da economia. "Mesmo com a expectativa de recuo, a confirmação de um crescimento elevado da produção industrial em janeiro aumenta a chance de que o PIB tenha, no primeiro trimestre, uma expansão mais alta do que a prevista", ponderou.
O Itaú Unibanco calcula que, em função do desempenho das fábricas em janeiro, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), como o IBGE chama os investimentos, cresceu. "O nosso índice mensal que avalia esse item avançou 4,5% na margem, influenciado em grande parte pelo crescimento do consumo aparente de máquinas e equipamento", projetou Bicalho. "No entanto, não observamos no conjunto de informações recentes sinais de que a intensificação do crescimento do começo deste ano está associada a fatores persistentes que poderiam se propagar nos trimestres seguintes."
Trajetória errática
Apesar de ter dado os primeiros passos para fora do atoleiro, a indústria não deve recuperar o protagonismo no PIB. Para Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, esse papel ficou para o setor de serviços, que se fortaleceu com a ascensão de 40 milhões de brasileiros à classe C nos últimos 10 anos e a expansão da renda. "Mesmo com o dado positivo de janeiro, a indústria vai crescer ao longo do ano de maneira errática."
Juros subindo
A decisão do Banco Central de abandonar a promessa de manter a taxa Selic estável por "um tempo suficientemente prolongado" levou o mercado futuro de juros a fortalecer as apostas em um aperto monetário em abril ou maio. Em decisão amplamente esperada, o Banco Central manteve a Selic estável em 7,25% na noite de quarta-feira (6), mas deixou a porta aberta para elevar a taxa, dependendo do comportamento da inflação. Ontem (7), os contratos DI para julho de 2013 alcançaram 7,23%, ante 7,21% na véspera. A taxa para janeiro de 2014 era negociada a 7,79%, ante 7,67% no ajuste de quarta-feira. Pesquisa da Reuters mostrou uma pequena maioria de economistas esperando que o BC eleve a taxa básica neste ano, e muitos prontos para mudar a projeção se a inflação continuar alta. Dessa forma, as atenções dos investidores estarão voltadas hoje para a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro.
Por Victor Martins/ Correio Braziliense