Há cerca de 20 ou 30 anos existia um mantra no mundo corporativo chamado qualidade. O movimento da qualidade total, capitaneado pelos exemplos de sucesso dos japoneses, regia a ordem de competitividade de toda empresa moderna. Nos últimos anos, o foco do desenvolvimento competitivo de todo o negócio sustentável passou a ser a inovação, apesar desse conceito ser ainda mais antigo que o da qualidade.
De toda forma, tudo leva a crer que a qualidade, antes tida como o “Santo Graal” corporativo, passou a ser uma premissa indispensável para a sustentabilidade de uma empresa. E a busca pela inovação, o novo alvo dos principais executivos modernos. Mas, se ela de fato existe, qual a razão dessa mudança?
Talvez não haja apenas uma resposta para a questão, mas podemos associar alguns indicativos que sustentam esta nova ordem. No final da década de 60, uma época que o Brasil ainda se esforçava para fazer a transição de uma economia agrícola para a industrial, nascia uma das empresas mais competitivas do mercado aeronáutico, a Embraer.
Fruto de um forte investimento do governo federal brasileiro, a Embraer foi concebida com a missão de disseminar a indústria aeronáutica no Brasil. De forma criteriosa, a sua concepção foi sustentada pela aquisição de um conjunto de tecnologias classificadas como de alta fertilidade, dentro de um planejamento para ocupação de nichos de mercado específicos.
O seu primeiro produto foi o Bandeirante, uma nova aeronave de uso geral, que operava com baixo custo operacional, capaz de ligar regiões remotas e de limitada infraestrutura. Inovação em uma época que as empresas concorrentes focavam mais na produção de aviões para usos específicos.
À frente desse processo estava o engenheiro Ozires Silva, que presidiu a empresa até meados dos anos 80. Para explicar a razão do movimento que levou o Brasil a investir em uma tecnologia, até então dominada por grupo de países significativamente mais desenvolvidos, de forma brilhante, Ozires faz uso de uma analogia que encanta pela simplicidade de sua mensagem.
Promovendo uma análise comparativa, ele apresenta uma escala de preços associada a determinados produtos:
1 kg de soja = R$ 0,50/kg
1 kg de avião = R$ 1.000/kg
1 kg de satélite = R$ 50.000/kg
De uma forma simples e direta, Ozires consegue explicar como uma estratégia de inovação permite agregar valor sobre toda uma economia.
O valor de uma política de investimento em inovação reside na simplicidade com a qual se pode avaliá-la. O conceito da qualidade continuará a ser uma premissa indispensável para a sustentabilidade de qualquer negócio. No entanto, uma estratégia sustentada pela inovação pode garantir saltos tecnológicos capazes de elevar um negócio a outros patamares competitivos. E quais seriam os limites?