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Alexandre Ameri | 11/09/2019
Notícias
Este artigo tem como objetivo tentar identificar qual a influência do momento no qual nosso país se encontra para os profissionais de engenharia e qual seria uma postura mais adequada para esta realidade. O texto não está referenciado em literaturas acadêmicas, mas sim na minha experiência profissional e de forma condensada nas inúmeras publicações que vemos sobre o tema nos últimos tempos
Nos últimos anos por inúmeras vezes não foi incomum ver notícias nos mais diversos meios de comunicação sobre o déficit do profissional de engenharia no mercado brasileiro. Algumas destas notícias enfatizando, inclusive, áreas de especialização requeridas, campos de atuação e números estimados de oportunidades disponíveis, números estes que impressionam, chegando ao extremo de em alguns casos associar a falta deste profissional com o risco de limitar o desenvolvimento do país.
Eu poderia aqui citar algumas fontes e alguns números, porém optei por me abster destes dados uma vez que é fato que todas estas abordagens sempre enfatizam uma grande necessidade.
Se utilizarmos como premissa um olhar mais técnico e racional com base nas necessidades tecnológicas e na modernização das linhas de produtos e de produção, veremos que foi rompida a barreira das fábricas e laboratórios, sendo o engenheiro requerido no agronegócio, na prestação de serviços e até mesmo no entretenimento e no lazer.
Tudo isso alavancado por um aumento de demanda que tem sua origem em um novo formato de consumo totalmente globalizado, o qual reivindica naturalmente esta necessidade de atingirmos patamares de desenvolvimento e volumes de produção semelhantes ao dos países mais desenvolvidos.
Diante do cenário exposto fica mais claro para entender o porquê desta abordagem da falta do profissional de engenharia no mercado brasileiro. Acredito que essa necessidade é um fato de concordância quase que unânime para o desenvolvimento sustentável, transformação de nossas linhas de produção, Indústria 4.0, economia circular, entre outros.
Porém agora vamos associar a este cenário supostamente favorável algumas outras informações que também são veiculadas e exploradas pelos mesmos meios de comunicação - nas mesmas proporções e, em alguns casos, de forma até mais intensa por conta de divergências políticas e ou de conflitos ideológicos. Essas têm uma mensagem inversa, chegando a ser desmotivadoras para os profissionais da área de engenharia ou para aqueles que pretendem um dia ingressar nesta área.
Exemplo disso são as notícias que mostram inúmeros cortes que a indústria vem praticando, empresas encerrando parte suas atividades no país e a os impactos negativos da mesma globalização que na primeira abordagem abre inúmeras oportunidades.
Para sermos corretos vamos tentar fazer uma análise racional destas informações da mesma forma que foi feita na primeira abordagem. Contra números é difícil de se encontrar argumentos: a nossa economia neste momento não pode ser considerada como referência em performance, os índices desemprego são realmente assustadores e empresas que nunca imaginávamos que em algum momento deixariam de operar em nossa região, o fizeram. Em adição a este cenário está cada vez mais fácil e ágil a aquisição de itens importados - independente de porte, aplicação e país de origem.
Outras notícias, que do meu ponto de vista são um pouco mais sensacionalistas, enfatizam a necessidade dos profissionais de abrirem mão de sua carreira como engenheiros para atuarem em outras áreas em que não são requeridos conhecimentos técnicos. Vemos com frequência reportagens sobre engenheiros que por questões de sobrevivência financeira atuam como motoristas, no mercado de alimentação e outras funções informais ou com menos especialização requerida.
E qual conclusão chegar tendo em vista dois cenários divergentes e possíveis de se justificar com dados reais de mercado? Onde está o ponto de conversão, ou melhor, onde está o ponto de equilíbrio entre a oportunidade e a crise? Como o profissional de engenharia é realmente afetado por esta situação?
Acredito que as respostas estejam na forma de abordarmos e processarmos esses dados. Com certeza muitos vão discordar deste raciocínio, principalmente aqueles que pontualmente neste momento estão sendo impactados negativamente e optam por defender a afirmação do copo meio vazio. Não resta dúvida que toda mudança gera impactos, porém como já aprendemos nas leis da física e da vida, para toda ação existe uma reação - a resposta está na forma de encararmos esta reação. É fato que em muitas vezes ela pode trazer impactos negativos, porém temporários, me permitindo ser um pouco poético: só existe a beleza do brilho das estrelas em decorrência da escuridão da noite.
Para as situações negativas temos que aplicar a mesma flexibilidade que é requerida do profissional na sua atuação em campo para contornar situações críticas. Mesmo quando isso não for possível, é preciso ter a capacidade de se estabelecer planos para mitigar ao máximo os impactos negativos. Já para as abordagens mais sensacionalistas, as quais têm uma mensagem depreciadora e desmotivadora para o profissional que por algumas vezes opta por sair de sua zona de conforto para atuar em diferentes áreas, eu opto pela mesma estratégia: o sensacionalismo. Porém desta vez enaltecendo a capacidade do profissional de engenharia em navegar nos mais diferentes mares quando se é requerido, tendo controle absoluto da situação e sempre entregando bons resultados, aplicando a engenharia para a vida - o que todos aqueles que têm a formação nesta área sabem que é totalmente possível.
O principal é manter o foco nas oportunidades, pois elas existem. O profissional precisa se permitir a explorá-las deixando um pouco de lado o habitual do dia a dia, ampliando o seu campo de visão para além das fronteiras hoje exploradas e utilizando das habilidades de explorar ambientes ambíguos mantendo os riscos sob controle.
Porém para aqueles que mesmo assim preferem optar pela crise, também resta uma opção, apesar de não ser a mais favorável: considerando dados históricos estas oscilações econômicas sempre existiram em nosso país e é difícil afirmar em qual ponto estamos da descida ou se o ponto de conversão para a subida já está próximo, porém, em algum momento isto vai acontecer e precisamos de profissionais capacitados para atender a esta necessidade.
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Alexandre Ameri
Mestre em processos industriais pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, graduado em Engenharia Mecânica Automobilística pelo Centro Universitário da FEI. Atuando a mais de 20 anos na Industria e com pesquisas nas áreas de Gerenciamento de Projetos, Desenvolvimento de Produtos, Desenvolvimento de Processos Industriais, Gestão de Pessoas e Gestão de Riscos. Atualmente é Gerente de Design Quality da General Motors América do Sul, Professor no curso de Graduação de Engenharia de Produção na Universidade São Francisco e Fundador da Ameri Consultoria & Seguros. Contatos: [email protected]
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