por Ernesto Berg    |   29/10/2015

Três atitudes poderosas nas relações humanas

“O único pecado imperdoável nas relações humanas e pisar no amor-próprio da outra pessoa”, Les Giblin

Se existe algo inalienável no ser humano é o seu direito de ser respeitado como pessoa. No instante em que alguém menospreza a decência e a dignidade da outra pessoa estará construindo barreiras intransponíveis e semeando ódio e mágoas. Embora este não seja um artigo sobre religião, é muito difícil separar o lado espiritual do ser humano das relações humanas. Ambas se interpenetram e caminham juntas, porque se você acredita que o ser humano deve ser tratado com dignidade e tem certos direitos inalienáveis, é porque – consciente ou inconscientemente – você reconhece que nele existe algo mais do que apenas um corpo, pensamentos e emoções. Reconhece que nele reside um ser superior a tudo isso -  seu espírito - e, que portanto, indistintamente, todos estamos aqui porque temos uma missão a cumprir e não nascemos por acaso.

Veja o que disse o reverenciado filósofo e matemático ateu Bertrand Russel: “A menos que se admita a existência de Deus, a questão que se refere ao propósito para a vida não tem sentido.” Ele mesmo, ateu confesso, admitiu que se a existência do ser humano tem algum propósito, esse propósito só poderia ser admitido pela existência de Deus. Particularmente, acredito que todos nós temos um objetivo a cumprir em nossa existência, e se entendermos que as outras pessoas têm igualmente suas missões, fica muito mais fácil interagirmos mutuamente, porque sabemos que estamos na mesma embarcação cruzando mares revoltos, mas sob os cuidados de Deus.

Três atitudes do relacionamento interpessoal construtivo

Grande parte dos problemas que afligem o mundo é fruto da autoestima não satisfeita. Muitas pessoas procuram compensar a baixo autoestima querendo enriquecer a qualquer custo, ou tentam adquirir poder, ou sentem a necessidade de estar em evidência nos meios de comunicação e nas mídias sociais. Descobrem, mais tarde, que a baixo autoestima - essa vontade de sentir-se importante e ser alguém -, é um vácuo que não se preenche com esses mecanismos. No fundo o que essas pessoas querem mesmo é ser reconhecidas e aceitas pelos outros.


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Na verdade, todos nós trazemos o desejo de sermos aceitos pelas pessoas, de que fazemos parte de um grupo e de que somos acolhidos por ele. De certa forma é o nosso ego sedento em encontrar seu lugar no mundo e mostrar a que veio. Quando essa sede é parcialmente satisfeita, conseguimos desviar a atenção de nós mesmos e canalizá-la beneficamente para outras pessoas e coisas. Mas, para que essa sede seja satisfeita três atitudes são necessárias: respeito, aprovação e uma sensação de valor próprio.

É muito comum acontecer que as pessoas a quem menos demonstramos respeito são as que mais convivem conosco, tanto no âmbito profissional quanto familiar. A intimidade pode provocar indiferença e falta de atenção. Curioso é que, para que as pessoas se sintam respeitadas, pequenas coisas são necessárias. O elogio é uma dessas pequenas coisas. Quando foi a última vez que você fez um elogio sincero a alguém da família - esposa, marido, filho, mãe, pai etc.-, a alguém no trabalho - colega, subordinado, chefe (sem a conotação de bajulação) -, a alguém que lhe prestou um bom serviço? A pessoa que disser que fez isso na semana passada está mal, porque conseguiu lembrar-se de algo que ocorreu dias atrás, quando deveria fazê-lo diariamente, por várias vezes. Sempre encontraremos algo que podemos elogiar em alguém, mesmo que não apreciemos a pessoa: pela rapidez com que nos atendeu, por um trabalho bem feito, por uma refeição bem preparada, pelo esforço que fez, pela paciência com que nos aturou, pelo vestido bonito, pela bela camisa, pela perseverança que demonstrou etc.  

Outra atitude simples que demonstra respeito é prestar atenção ao que a outra pessoa diz, e não apenas “fazer de conta” que está atento quando, na realidade, seu pensamento voa em outras direções. É um dos maiores motivos de brigas entre casais, de mágoas de um subordinado com seu chefe, do cliente que percebe a indiferença do atendente à sua queixa, do filho ou filha que não consegue atrair a atenção dos pais. Um chefe, por exemplo, que recebe o subordinado em sua sala e, enquanto isso, faz ou recebe inúmeras ligações telefônicas, fica digitando no seu computador, ou sai da sala para tratar de algo e deixa o liderado aguardando sozinho, está dizendo a ele (não por palavras, mas por atitudes): “Você não merece minha atenção, porque eu tenho coisas mais importantes a tratar do que ficar aqui conversando com - ou ouvindo -  você”. Prestar atenção a uma pessoa significa deixar de lado o que está fazendo e demonstrar por atos de que está ouvindo: olhar nos olhos, postura atenta, perguntar, dialogar, dar sequência ao assunto, anotar o que for necessário anotar, valorizar o que a outra pessoa diz.

A consultora que valorizava pessoas

Quando eu era gerente em uma empresa estatal, conheci uma consultora que prestava regularmente serviços para a companhia em que eu trabalhava. Desde a primeira vez que a vi sua postura me chamou a atenção. Quando conversava com alguém ela prestava total atenção no interlocutor, como se ele fosse o único indivíduo da sala, mesmo que houvesse uma dúzia de outros por perto. Ela concentrava sua atenção na pessoa, puxava o assunto, perguntava, e deixava que essa pessoa expusesse seu ponto de vista sem interrupção, valorizando cada palavra que dizia.

Não se tratava apenas de encenação da consultora, porque depois ela repetia o que o interlocutor falara, alinhavando os pontos essenciais do diálogo e direcionava o assunto para uma conclusão, ou uma ação prática a ser adotada. Foi assim todas as vezes que eu mantive contato com ela e, no fundo, o que ela dizia – não por palavras, mas por atitudes – era: “Você é um cara importante, e o que você diz é igualmente importante para o entendimento e construção do nosso diálogo.” Ela não apenas prestava, de fato, atenção às pessoas, como também –  e principalmente – respeitava a opinião delas. O trabalho dela como consultora mostrou-se muito eficaz para nossa empresa. Três anos depois, ela foi contratada para ser superintendente de uma megaempresa de televisão brasileira, levando sua forma de agir e trabalhar para a nova organização, onde obteve enorme sucesso.

“Você percebe o valor de um homem pela maneira como ele trata sua esposa, pela maneira como trata seus subordinados e pela maneira como ele trata alguém que não pode lhe retribuir”, Ken Babcock, empresário norte-americano.

*Texto extraído e condensado do livro “O Livro das Relações Humanas – Seu Manual para Obter Sucesso com as Pessoas”, de Ernesto Berg, Juruá Editora. Para acessar o conteúdo ou adquirir o livro visite o site  www.quebrandobarreiras.com.br seção de LIVROS.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Ernesto Berg

Perfil do autor

Consultor de empresas, professor, palestrante, articulista, autor de 14 livros, especialista em desenvolvimento organizacional, negociação, gestão do tempo, criatividade na tomada de decisão, administração de conflitos. Graduado em Administração e Sociologia, Pós-graduado em Administração pela FGV de Brasília. Foi executivo do Serpro em Brasília por 10 anos e consultor Senior da Alexander Proudfoot Company de São Paulo.